Sermões e Estudos

Pr. Marcos R. Gomes – Pastor da Igreja Batista em Jardim Mauá/ABC-SP

“O Cristão genuíno batalha pela fé”

Reflexão no Livro de Judas vs 1-4 - GI

INTRODUÇÃO

O escritor da carta foi Judas, não o Iscariotes, mas o que era irmão de Tiago, o mesmo escritor da carta de Tiago e irmão de Jesus. (Mt 13.55; Mc 6.3; Tg 1.1.). Provavelmente ele cita Tiago por ser ele uma das “colunas” espirituais da igreja de Jerusalém. Por ser ele bem conhecido, Judas identifica-se para dar peso e autoridade às suas palavras. É provável que Judas tenha escrito sua carta na Palestina, visto que não há registro de ele ter saído daquele país. Provavelmente ela foi escrita por volta do ano 65 D.C. Judas, Tiago e os outros irmãos do Senhor não criam nEle (Jo 7.5), mas depois da ressurreição eles se converteram em seus seguidores (At 1:14). Judas não tirou partido de seu parentesco carnal com Jesus, mas, com humildade, deu ênfase à sua relação espiritual como “escravo do Senhor Jesus”. (1 Co. 7.22; 2 Co. 5,16; Mt. 20.27). A palavra grega δουλος (Gr.: doulos) significa “escravo” – “alguém amarrado a outro”. Traduzido ainda por “servo” significa literalmente “prender, amarrar”. Observamos a ideia por trás da palavra δουλος, que é de um prisioneiro, um escravo de alguém, uma pessoa presa para fazer a vontade de seu amo, uma pessoa que, embora tenha sua própria vontade, foi convencida a se render a vontade de alguém maior, que por sua vez, se tornou seu amo; (Paulo em II Co 5.14 diz que: O amor de Cristo nos constrange a servi-lo), é tanto amor que nos redemos a sua servidão. Podemos dizer que a grande diferença entre o uso comum de “doulos” e o seu uso bíblico é a voluntariedade da condição a qual o próprio indivíduo escolhe se submeter. É importante destacar que havia dois tipos de escravos, o voluntário e o escravo pela dominação. Quando no redemos ao amor de Cristo, decidimos voluntariamente tê-lo como nosso Senhor. No versículo 1 vemos a quem foi endereçada a carta: Era uma carta aberta a várias igrejas, aos judeus crentes por causa do conhecimento do VT. Aos crentes universais de todo o mundo. Aplica-se a nós nos dias atuais pelo mesmo contexto daquela época. O Tema central da carta está no verso 3: “Amados, quando empregava toda diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhares diligentemente pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos.”. Ele exorta o povo a batalhar pela fé recebida do Senhor Jesus. Judas escreve em forma de Tríade (tríade é a descrição de algo, destacando sempre 3 pontos).

Neste sentido temos TRÊS RAZÕES para Judas escrever a carta:

1ª RAZÃO: ELE NUTRIA POR ELES UM SENTIMENTO TRÍADE DE IRMANDADE: v1. Existe no verso 1, três características comum aos destinatários da carta: 1ª CARACTERÍSTICA – Eles são chamados: A carta foi enviada aos chamados por Deus ao glorioso reino celestial de Seu Filho. (Em Jo. 6.44 – “Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer...”) Deus amou esses “chamados”, e era de seu agrado dar-lhes o reino, se pessoalmente mantivessem uma condição espiritual aceitável, que fosse do agrado do Senhor. (Em Lc 12.32 Jesus disse: “... porque o vosso Pai se agrada em dar-vos o reino”). Se somos chamados, é porque somos escolhidos, e qual a razão para maior alegria, do que ter sido escolhido por Deus e assim poder aceitar o seu chamado? É porque somos amados, está é a segunda característica dos destinatários. 2ª CARACTERÍSTICA – Eles são amados: Ele escreve também para os que são amados em sua relação com Deus. O objetivo que levou Judas a escrever essa epístola, era o amor puro, o amor da parte do Pai para com esses cristãos. Deus nos amou tanto a ponto de permitir que Seu filho unigênito morresse para que aquele que cresse pudesse ter vida eterna. Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida com Cristo quando ainda estávamos mortos em transgressões – pela graça vocês são salvos. Ef 2.4-5. 3ª CARACTERÍSTICA – Eles são guardados/preservados: E por último a carta é para os protegidos, vigiados, preservados, amparados, que são aqueles que não se contaminam com o mundo; Guardar aqui é “phulasso” e significa perecer, a ideia de Judas é que Cristo não permitirá que os seus tropece ao ponto de se perderem eternamente. Em Jo 10.18 Jesus diz que estes são aqueles que estão nas suas mãos: “Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai”. Foram dados a Ele pelo Pai e por isso estão nas mãos Dele. Jo 10.28 “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão.”.

A 2ª RAZÃO: JUDAS NUTRIA POR ELES UM SENTIMENTO TRÍADE DE CARINHO: v2. No verso 2 temos o desejo de Judas expressado através de um cumprimento: “A misericórdia, a paz e o amor vos sejam multiplicados ou aumentados”. É uma expressão de respeito, é um cumprimento. É importante dizer que o cumprimento comum da época era Graça e Paz. Judas incluiu a misericórdia e ainda desejou que esta fosse multiplicada. No caso de Judas, ele expressou seus sinceros sentimentos de três formas: 1ª FORMA - Desejando Misericórdia: A misericórdia de Deus se expressa na provisão de resgate que ele fez por meio de Jesus. (Ler Tt 3.4-7 Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna.). O desejo piedoso de Judas era que seus irmãos desfrutassem da misericórdia divina em medida ainda maior. Podemos definir misericórdia como ato gracioso de Deus em não dar aos que creem em Cristo o que eles realmente merecem, o inferno. É um ato de livramento. 2ª FORMA - Desejando Paz: ειρηνη. “Paz” é “eirene” no grego, e significa “juntar-se, unir-se”. Desejar a paz é, portanto, querer “juntar de novo” o que uma vez foi separado. Jesus Cristo, mediante seu sangue derramado reconstituiu ou restaurou a paz de Deus. Judas também desejou que seus irmãos tivessem um aumento da paz de Deus em suas vidas. Podemos definir paz como um estado de espirito que alcança todos os que obedecem a Deus e tem um relacionamento sincero com Ele. A paz é um dos frutos do Espírito. 3ª FORMA - Desejando Amor: αγαπη (Gr.: ágape). O grande amor de Deus foi manifestado no gesto de dar seu Filho a fim de que “todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. (Jo 3.16) Enquanto éramos ainda pecadores, não tendo nenhuma relação pessoal com Deus, Ele mostrou esse amor por nós. (Rm 5.8). Judas também desejou que o amor aos a quem a sua carta foi dirigida aumentasse. Paulo em Fp 1.9 escreve que “o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção”. Podemos definir o amor com a seguinte frase: Deus é amor, fora dele não pode existir expressão alguma de amor. O Amor é parte da essência de Deus. I Co 13 descreve bem algumas características do Amor de Deus. Judas nutria o desejo de que a Misericórdia, Paz e Amor deles fossem aumentados, porque o bem-estar espiritual deles corriam perigo. Assim, necessitavam da misericórdia, da paz e do amor de Deus em maior abundância do que nunca. Acredito que não estamos vivendo dias diferentes dos dias de Judas, os ataques a nossa fé, a nossa liberdade de servimos e cultuarmos a Deus, os princípios da Palavra de Deus têm sido cerceados.

A 3ª RAZÃO: ELE NUTRIA POR ELES UM SENTIMENTO TRÍADE DE PASTOR: v3-4. No verso 3 temos o ápice da carta, quando ele diz o porquê escreveu: Judas expressou sua preocupação como pastor de três maneiras: 1ª MANEIRA - Mudando de Assunto: A princípio Judas estaria escrevendo para falar sobre salvação, mas depois resolveu escrever falando sobre batalhar pela fé. Batalhar pela Fé aqui são os ensinos de Cristos. Mas porque esta mudança de ideia? Por vários motivos, o primeiro deles é que estava acontecendo uma situação ameaçadora dentro da igreja. Homens imorais, animalescos, tinham-se introduzido sorrateiramente entre os cristãos e ‘transformavam a Graça imerecida de nosso Deus numa desculpa para conduta desenfreada’. O segundo: é que também havia na época um pensamento pré-gnóstico, não havia na época a seita gnóstica, mas os ensinamentos sim, eles acreditavam que o mal estava na matéria, portanto o corpo é visto como prisão do espírito e precisava ser liberto, por isso ele não servia pra nada. Era um pensamento humanista, voltado para o prazer humano. Portanto para eles se podia fazer o que quisesse com o corpo. Estes ensinamentos estavam entrando na igreja e os cristãos estavam aceitando-o normalmente, por isto Judas queria que eles buscassem mais, que eles alcançassem a maturidade cristã: Paulo escreve aos coríntios que não eram crentes fáceis de lidar, em I Co 13.11 sobre buscar uma maturidade cristã, que eles não podiam continuar como meninos... “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino.”. Paulo escrevendo a Timóteo fala sobre manter o padrão da sã doutrina. II Tm 1.13 “Mantém o padrão das sãs palavras (doutrina) que de mim ouviste com fé...”; Em II Tm 2.15 vemos que a sã doutrina era o pilar do Cristianismo, tanto é Paulo diz “Procura apresentar-te a Deus, aprovado, como obreiro que não tem de se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. 2ª MANEIRA – Encorajando-os a batalharem pela fé em Cristo Jesus: Judas está exortando os crentes a batalharem pelo Cristianismo. O verso diz para: “batalhar diligentemente pela fé...”: significa “lutar vigorosamente”, lit.: “Competir por um prêmio”, figurativamente “contender com um adversário”, ou “se esforçar para conseguir realizar algo”, “mostrando que a batalha dos crentes é contínua.” É traduzido por “peleja”, “combater”, “agonizar” e relaciona com um esforço diligente e sincero da parte do indivíduo em prol de algo que para ele tem valor; no caso em consideração é a luta árdua pela FÉ. Será que assim que temos agido? Muitos não sabem, mas nós os crentes temos um credo, que rege nossas convicções, chamado de credo Apostólico que surgiu da necessidade de definir os pontos fundamentais que deveriam ser aceitos por todos que desejassem filiar-se a Igreja de Cristo: Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do Céu e da terra. Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu ao Hades; ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; subiu ao Céu; está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo; na Santa Igreja Universal; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição do corpo; na vida eterna. Amém. Mas o que é ter convicção? é acreditar em uma causa, é viver e morrer por ela caso necessário, é manter a fé não importando as consequências; E a última parte do versículo diz que essa fé “... de uma vez por todas foi entregue aos santos”. Essa fé era o conjunto de crenças a respeito de Deus e de Seu reino, confiado aos cristãos pelo Senhor Jesus e por seus discípulos inspirados. (Gl 1.6-8). Temos que nos manter leais a Deus, evitando o engano; devemos ‘travar uma luta árdua pela fé’ contra quaisquer “boas novas de imitação”, resistindo seriamente às tentativas de acrescentar ou de subtrair o ensino da Palavra de Deus “Toda palavra de Deus é pura; ele é escudo para os que nele confiam. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreendas e sejas achado mentiroso” Pv 30.5-6; Ap 22.18-19 – são sérias as consequências a quem acrescentar ou tirar pontos da Palavra de Deus. 3ª MANEIRA – Alertando-os sobre o perigo: No Verso 4 Judas vai dizer quem eram essas pessoas: “Elas se introduziram com dissimulação ou sorrateiramente...” – “Entrar de fininho; entrar sem ser notado; infiltrar-se secretamente; entrar furtivamente pela porta dos fundos”. Este comentário é interessante pelo fato de que, assim como o pôr do sol se dá de maneira lenta, até que a escuridão tome conta do dia, assim também aqueles cristãos falsos aos poucos começaram a minar a fé dos seus irmãos fazendo que caísse sobre eles a escuridão espiritual. Quem são eles? “Os homens ímpios...” Esses instrutores falsos eram homens sem “nenhuma reverência para com Deus”. Estes homens estavam tentando de maneira furtiva contaminar a congregação cristã dos dias de Judas. Satanás passou a infiltrar de maneira sagaz homens iníquos para corromper a moral da Igreja. O que eles fizeram? “Eles transformam em libertinagem a graça de nosso Deus...” – Dessa forma, esses falsos instrutores colocaram lascividade (tendência a luxúria, sensualidade) no lugar da graça de Deus; Como? “negando o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo.” – Quando Judas fala de Jesus Cristo como dono ou soberano, devemos nos lembrar que ele, anteriormente, estava falando sobre falsos mestres que queriam tomar controle ou se tornarem “donos”, ou amos da fé dos irmãos por ensinar as “SUAS” verdades para a igreja. Neste sentido, Judas traz a memória dos irmãos que Jesus, era o cabeça da igreja, o ÚNICO Dono e que ninguém dentre eles deveria se colocar em sujeição a aqueles falsos mestres.

CONCLUSÃO

O que esta mensagem tem a ver contigo que nos ouve? No início eu citei a GI: dizendo que “O CRISTÃO GENUÍNO BATALHA PELA FÉ”. É Cristão genuíno todo crente que tem consciência da sua necessidade de buscar mais a Deus, e de se fortalecer mais na fé, para enfrentar com autoridade as investidas de satanás. O que Judas procurou fazer nesta carta é justamente isto, ele escreveu aos crentes universais alertando do perigo que eles corriam quando homens ímpios se infiltram na igreja do Senhor, que eles precisavam batalhar pela fé recebida pelo Senhor Jesus. Por isso é importante olharmos para Jesus e para sua Palavra, estudá-la, examiná-la a cada dia como os Bereanos faziam lá em At 17. Será que estamos dispostos e preparados a travar uma luta árdua pela fé? Somente nos aproximaremos mais dos ensinos de Cristo se o buscarmos de todo o nosso coração (disse o Senhor: buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração. Jr 29.13). Como podemos nos aproximar mais de Cristo? Nos esmerando no estudo das Escrituras, investindo tempo no que é mais importante nas nossas vidas, se é que estudar a Palavra de Deus é importante pra você. Tem muito crente que dedica tempo para tantas coisas que não agrega nada no fortalecimento da sua fé e não separa um mínimo de tempo para a meditação da Palavra de Deus, ai na hora do desafio da fé, da prova, não conhece aquele que tem tudo no seu controle. Precisamos sair da zona de conforto e ter mais intimidade com Deus, caso contrário, muitos serão enganados pelos falsos mestres. A Bíblia diz “errais por não conheceis as escrituras”. Que Deus em Cristo Jesus vos abençoe, despertando todos aqueles que estão dormindo do sono da morte espiritual. Amém.